Senado aprova projeto que flexibiliza o Licenciamento Ambiental
Com 54 votos a favor e 13 contrários, o Senado aprovou o PL 2159/21, que institui uma nova Lei Geral do Licenciamento Ambiental no Brasil. O texto, que agora retorna à Câmara dos Deputados, traz mudanças profundas na legislação ambiental brasileira ao flexibilizar etapas do processo de licenciamento — mesmo para empreendimentos com alto impacto, como a exploração de petróleo na Foz do Amazonas.
Entre as alterações mais polêmicas estão a criação da Licença por Adesão e Compromisso (LAC) e da Licença Ambiental Especial (LAE), que reduzem o rigor técnico, os prazos e a participação pública no processo de licenciamento. A proposta também revoga trechos da Lei da Mata Atlântica, restringe a análise de impactos em áreas protegidas e elimina a necessidade de consulta a comunidades tradicionais.
Riscos ambientais e críticas institucionais
O Ministério do Meio Ambiente (MMA) alertou que o projeto representa um risco à segurança ambiental e social do país, além de desestruturar o sistema normativo vigente. Em nota, o MMA apontou que o texto aprovado afronta o artigo 225 da Constituição Federal, que garante o direito de todos a um meio ambiente ecologicamente equilibrado.
Além disso, o projeto contraria decisões do Supremo Tribunal Federal (STF), como no caso da LAC, já questionada em julgamentos anteriores. A nova lei também enfraquece os instrumentos de participação popular e centraliza decisões em conselhos governamentais, com forte influência política.
O ex-ministro do Meio Ambiente Carlos Minc foi uma das vozes mais críticas à proposta. Para ele, o projeto inverte prioridades e coloca a política acima da ciência. “Eles praticamente consideram que o licenciamento é um entrave. Jogaram a criança com a água da bacia”, afirmou, em referência à tentativa de acelerar projetos estratégicos sem avaliar devidamente seus impactos ambientais.
Minc também ressaltou que o projeto enfraquece a posição do Brasil em negociações climáticas e pode prejudicar acordos comerciais com a União Europeia — além de gerar insegurança jurídica para empreendedores sérios que seguem os trâmites corretos.
A proposta é fortemente apoiada pela bancada ruralista, por setores do agronegócio e da indústria. Ganhou impulso com o apoio do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), que incluiu emenda para acelerar obras consideradas estratégicas.
No governo, a ministra Marina Silva ficou isolada. A Casa Civil, comandada por Rui Costa, não barrou o avanço da proposta, e o Palácio do Planalto se absteve de orientar a base aliada — o que, na prática, facilitou a aprovação.
A relatora do texto, senadora Tereza Cristina (PP-MS), declarou que as críticas ao projeto seriam “narrativas ideológicas de má fé”, reforçando o tom político do debate.
Impactos esperados e reação da sociedade civil
Entidades como o Observatório do Clima, o Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (Proam) e o Instituto Socioambiental (ISA) apontam uma série de consequências negativas caso o projeto entre em vigor:
O texto ainda precisa ser analisado novamente pela Câmara dos Deputados e, caso aprovado, seguirá para sanção presidencial. Juristas e ambientalistas já sinalizam que podem recorrer ao STF para barrar trechos que violem a Constituição.
Como as empresas podem se adaptar às novas regras de Licenciamento Ambiental
Diante desse cenário de incerteza jurídica e mudanças estruturais no marco legal, é essencial que empresas atuem com responsabilidade e estratégia. Abaixo, listamos caminhos para se adaptar:
1. Mantenha assessoria ambiental especializada
Mesmo com a possível flexibilização legal, o comprometimento com boas práticas ambientais continua sendo um diferencial competitivo. Contar com especialistas evita erros que podem gerar multas, embargos ou processos judiciais.
2. Documente e monitore todas as etapas
Registrar cada fase do processo de licenciamento, inclusive condicionantes e compromissos socioambientais, é essencial para segurança jurídica e para o relacionamento com stakeholders.
3. Invista em diálogo com comunidades locais
Mesmo que a consulta pública não seja mais obrigatória em todos os casos, manter canais de diálogo abertos com populações afetadas pode evitar conflitos e agregar valor reputacional.
4. Adote compromissos ESG com transparência
Empresas alinhadas com boas práticas ambientais, sociais e de governança são mais bem vistas por investidores e parceiros comerciais — e menos vulneráveis a boicotes ou sanções.
5. Monitore decisões judiciais e mudanças regulatórias
O ambiente regulatório está instável e pode mudar a qualquer momento. Ter uma equipe atenta a decisões do STF e às movimentações no Congresso é uma vantagem estratégica.
O novo marco do Licenciamento Ambiental ainda está em debate, mas já levanta preocupações legítimas sobre retrocessos institucionais e danos irreversíveis ao meio ambiente. Para as empresas, o melhor caminho é não apenas seguir a lei, mas adotar uma postura ética e responsável, com foco em sustentabilidade, governança e transparência. Afinal, desenvolver com responsabilidade é o único desenvolvimento possível.